O Espaço É A Máquina

Este texto é fruto de uma discussão acadêmica com colegas. Provavelmente há imprecisões acerca de algumas afirmativas. No entanto, o objetivo aqui é tentar trazer à luz uma discussão que envolve uma das principais críticas aos estudos arquitetônicos: o determinismo arquitetônico. Tornou-se de praxe analisar a arquitetura a partir do ponto de vista dos agente e atores que nele interferem. Mas, andando na contramão deste pensamento, em que a arquitetura interfere na sociedade? Eis que surge a “metáfora da máquina”. A seguir, uma brevíssima (e inicial) tentativa de abrir uma discussão sobre o tema…

“O espaço é a máquina”. A frase parece, num primeiro momento, equivocada. Como tratar algo tão dinâmico (e, por muitas vezes considerado orgânico) como uma cidade como uma máquina? A frase é o título do livro Space Is The Machine, do professor Bill Hillier, da University College London, e uma das leituras seminais sobre a Teoria da Sintaxe Espacial. Condensando a abordagem teórica encontrada em The Social Logic of Space (Hillier e Hanson, 1984), Space Is The Machine busca avançar nos estudos sobre a forma urbana, ao tentar contribuir na formulação de uma teoria sobre a influência da morfologia urbana na sociedade.

Hillier (2007) explica que a metáfora do espaço com a máquina: ela advém da clássica frase de Le Corbusier (1931, p.95): “A house is a machine for living in” (uma casa é uma máquina de morar, em tradução livre). Num primeiro momento, não parece haver uma analogia entre “casa” e “máquina”, se você pensar em máquina num conceito stricto sensu, enquanto um conjunto de mecanismos que transforma uma matéria durante sua operação.

Porém, Le Corbusier aborda mais adiante na publicação que a planta como parte constituinte da arquitetura, e que o espaço é organizado pela planta, como expressão da criatividade arquitetônica. O autor ainda completa que o elemento principal na organização espacial da arquitetura seria o eixo, pois a arquitetura é baseada no movimento das pessoas: “The axis is fundamental because the experience of architecture is an movement experience.” (Hillier, 2007, p. 292).

É preciso entender o contexto que a palavra máquina é utilizada aqui: o espaço (forma urbana) é uma das principais forças motrizes das práticas sociais e seus efeitos secundários (uso do solo, por exemplo). Se a forma urbana é geradora de movimentos, a “metáfora da máquina” pode ser interpretada pela organização espacial das cidades, e como a relação forma-função afeta nosso comportamento. Quanto melhor a qualidade da tessitura urbana, melhor a eficiência social do espaço.

Não há um elemento único que molda a cidade. Não há um determinismo. Porém, é importante

O livro pode ser adquirido gratuitamente no site da publicação (http://spaceisthemachine.com) em formato PDF. Para quem quer se aprofundar na Teoria da Sintaxe Espacial, é uma leitura recomendada.

Referências:

Le Corbusier. Towards a New Architecture. London: J. Rodker, 1931.

Hillier, B. Space Is The Machine. London: Space Syntax, 2007.

Hillier, B.; Hanson, J. The Social Logic of Space. Cambridge: University Press, 1984.

Autor: Alexandre Castro

Arquiteto e Urbanista, Mestre em Engenharia Urbana e Ambiental, Doutorando em Arquitetura e Urbanismo (UFRN). Entusiasta por cidades, pessoas e mapas. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1135510231721299

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