No Século XXI viu-se uma mudança de paradigma no que diz respeito às formas de deslocamento na cidade. O automóvel, tido por muitas décadas como única solução de mobilidade urbana, passou a ser substituído por alternativas ditas mais sustentáveis. Nesse rol de opções, a mobilidade urbana não motorizada, compreendida pelo andar a pé e de bicicleta, ocupa posição importante nas pesquisas e ações no planejamento dos transportes urbanos, como também um dos itens principais norteadores da Política Nacional de Mobilidade Urbana.
Mas quais são os reais benefícios? Abaixo, serão mostradas 7 vantagens que a mobilidade urbana ativa traz para a população, para a gestão urbana e para a cidade como um todo:
1- Melhoria da saúde e qualidade de vida
Vários estudos, a exemplo do artigo Urban Sprawl and Risk for Being Overweight or Obese, de Russ Lopez (2004) mostram que há relação entre expansão urbana e problemas de saúde, como problemas cardíacos e obesidade. Cidades mais dispersas e espraiadas geram maiores distâncias e, consequentemente, deslocamentos mais longos, muitos dos quais não podem ser realizados a pé ou de bicicleta. A alternativa para esses deslocamentos é o uso do transporte público ou automóvel, onde o condutor e passageiros permanecem em inércia durante toda a viagem. Esse hábito diário e rotineiro contribui para o sedentarismo, contribuindo para o aparecimento de doenças cardiovasculares e aumento do número de pessoas obesas.
A promoção da mobilidade urbana ativa contribuiria para reverter esse quadro, uma vez que são modos de transporte baseados no movimento humano, sendo assim uma forma de exercitar o corpo e reduzir possíveis doenças relacionadas ao sedentarismo.
2- Cidades caminháveis são mais produtivas
De acordo com o relatório Foot Traffic Ahead, coordenado por Christopher Leinberger e Michael Rodriguez (2016), da George Washington University School of Business, existe uma relação entre a propensão a caminhada e o bem-estar econômico de uma cidade. A pesquisa analisou 30 regiões metropolitanas nos Estados Unidos, com o objetivo de investigar a relação entre o grau de caminhabilidade dessas regiões e indicadores comerciais e educacionais.
Os resultados obtidos mostram que as cidades caminháveis possuem um Produto Interno Bruto (PIB) per capita 38% maior que as cidades voltadas para o automóvel. Além disso, verificou-se que as cidades mais caminháveis também atraem pessoas de nível educacional mais elevado e são socialmente mais igualitárias.
3- Eficiência energética;
O primeiro impacto positivo dos modos de transporte não motorizados, no que diz respeito à eficiência energética, é que não consomem fontes de energia não renováveis, a exemplo dos combustíveis fósseis (gasolina e diesel). Dessa forma, além de contribuir para o uso racional desse tipo de combustível, são modos de transporte ditos “limpos”, que não emitem gases poluentes na atmosfera.
Além disso, de acordo com a publicação Sustainable Transport and Public Policy, de autoria de David Banister (2013), a bicicleta e o andar a pé são os modos de transporte que menos consomem energia para que uma pessoa se desloque por 1 km: um deslocamento por bicicleta consome 0.06 megajoules por quilômetro por pessoa, e o andar a pé consome 0.16 megajoules por quilômetro por pessoa, valores bem menores que os modos de transporte motorizados.
4- Aumento da vitalidade e segurança das ruas
Jacobs (1961) já mencionava a importância dos pedestres para a cidade: quanto mais pedestres fossem vistos nas ruas, mais incentivariam novas pessoas a utilizar os espaços públicos. Esse processo levaria a uma rua com mais vitalidade, uma vez que haveriam mais pessoas interagindo entre si.
Investir no deslocamento a pé implica em aumentar o volume de pedestres nas calçadas, tornando possível mais transações sociais (encontros sociais, negócios, entre outros) e, consequentemente, mais vitalidade. Assim, o aumento de usuários do espaço público inibe ações criminosas, como furtos e roubos.
5- Reduz os congestionamentos
Os modos de transporte ativo ocupam pouco espaço na rua. Simulando um espaço de circulação de 6 m de largura (o equivalente a 2 faixas carroçáveis), seriam necessários apenas 48 m², com 9 m de comprimento total, para ocupar 60 pedestres, o que dá uma densidade de 1.25 pessoa/ m², enquanto que o automóvel precisa ocupar 900 m², distribuídos em 150 m de comprimento, para levar a mesma quantidade de pessoas, com uma densidade de 0.06 pessoa/m². Apenas o ônibus ocupa menos espaço e possui mais densidade: precisa de 42 m² e densidade de 1.42 pessoa/m².
Portanto, priorizar o transporte ativo resultaria em menos congestionamentos e economia de espaço público que poderia ser utilizado para a criação de praças, áreas de lazer e encontro, implantação de áreas verdes, além de facilitar a organização e hierarquização dos modos de transporte.
6- Reduz vítimas fatais e custos em acidentes de trânsito
De acordo com a publicação Quantifying the Benefits of Nonmotorized Transportation for Achieving Mobility Management Objectives, de Todd Litman (2010), há uma série de benefícios da mobilidade ativa para as cidades, dentre eles a redução do risco de acidentes. Com a priorização dos modos de transporte ativos, os acidentes de trânsito, principalmente os fatais, podem reduzir, por alguns motivos.
Primeiro, porque, com a priorização do pedestre e do ciclista, haveriam menos veículos em circulação, o que por si só já reduz a probabilidade de acidentes. Outro motivo é que esta priorização normalmente é feita em conjunto com medidas de traffic calming, como redução da velocidade máxima permitida é reduzida, diminuindo também as chances de uma colisão em alta velocidade e, consequentemente, fatal. A publicação estima uma redução de 32% no número de acidentes com ciclistas em áreas priorizadas para transportes ativos.
Outro benefício ligado à redução de acidentes está nos custos, uma vez que haveriam menos pessoas feridas para serem tratadas, além de se gastar menos com seguros e indenizações.
7- Redução das Emissões de Poluentes
Uma possível redução no número de automóveis circulando nas ruas, em função dos investimentos em mobilidade ativa, pode gerar impactos positivos no que diz respeito às emissões de poluentes.
De acordo com a publicação Sistema de Informações da Mobilidade Urbana – Relatório Geral 2014, da ANTP (2016), os automóveis representam, em média, 60% do total de poluentes emitidos pelos modos de transporte, enquanto que o pedestrianismo e a bicicleta não produzem poluição. Assim, a mobilidade ativa contribuiria para a redução da emissão de poluentes que causam o efeito estufa, melhoria da qualidade do ar e, consequentemente, da qualidade de vida da população.
Referências:
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TRANSPORTES PÚBLICOS. Sistema de Informações da Mobilidade Urbana – Relatório Geral 2014. São Paulo: ANTP, 2016.
BANISTER, D. Sustainable Transport and Public Policy. Transportation Engineering and Planning, v.2, 2013.
JACOBS, J. The Death and Life of Great American Cities. New York. Vintage, 1961.
LEINBERGER, C.; RODRIGUEZ, M. Foot Traffic Ahead: Walkable Urbanism in America’s Largest Metros. Washington, DC: The George Washington University Center for Real Estate & Urban Analysis, 2016.
LITMAN, T. Quantifying the Benefits of Nonmotorized Transportation for Achieving Mobility Management Objectives. Victoria, BC: Victoria Transport Policy Institute, 2010.
LOPEZ, R. Urban Sprawl and Risk for Being Overweight or Obese. American Journal of Public Health, v.94, .n9, 2004.
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