A Sintaxe Espacial é um dos métodos de análise em Arquitetura e Urbanismo mais importantes desenvolvidos nas últimas décadas. No entanto, dada a complexidade tanto da sua teoria como na construção dos mapas e dados, pesquisadores possuem dificuldades no seu aprendizado. Este post traz uma lista de leituras que consideramos importantes para entender ou se aprofundar na Teoria da Sintaxe Espacial, tanto para iniciantes como para adeptos da teoria.
O intuito do post não é trazer uma lista completa e definitiva da bibliografia sobre Sintaxe Espacial, pois a metodologia aborda a relação da forma urbana com diversos fenômenos sociais, cada um com referências específicas importantes, mas sim apontar leituras para introdução ou aprofundamento no método em si, tanto no arcabouço teórico quanto nas modelagens, ferramentas e medidas utilizadas.
Lista atualizada em: 15/10/2018
HILLIER, B.; LEAMAN, A.; STANSALL, P.; BEDFORD, M. Space syntax. Environment and planning B: Planning and design, v. 3, n. 2, p. 147-185, 1976. [Link]
É o primeiro trabalho onde foi utilizado o termo space syntax (sintaxe do espaço ou sintaxe espacial). Os autores questionam os motivos pelos quais diferentes sociedades produzem diferentes ordenamentos espaciais. Divido em três partes, o trabalho argumenta que a configuração espacial poderia influenciar nos padrões de comportamento humano.
HILLIER, B.; HANSON, J. The social logic of space. Cambridge: University Press, 1984.
Livro fundamental, The Social Logic of Space foi a primeira publicação a trazer, de forma completa, o arcabouço teórico da Sintaxe Espacial. A base teórica do livro busca explicar como padrões de organização e arranjo espacial (sintaxe) podem influenciar no comportamento humano. São apresentados modelos de representação do espaço urbano e edificado, além de medidas para calcular estas espacialidades.
KLARQVIST, B. A space syntax glossary. NA, v. 6, n. 2, 1993. [Link]
Este breve trabalho apresenta um glossário dos principais conceitos usados na Sintaxe Espacial, como Mapa Axial, Mapa Convexo, Integração, Conectividade, Núcleo Integrador, Escolha, entre outros.
HILLIER, B.; PENN, A.; HANSON, J.; GRAJEWSKI, T.; & XU, J. Natural movement: or, configuration and attraction in urban pedestrian movement. Environment and Planning B: planning and design, v. 20, n. 1, p. 29-66, 1993. [Link]
O artigo apresenta a Teoria do Movimento Natural das Pessoas. Os autores argumentam que a configuração espacial em si, ou seja, o arranjo dos espaços livres e edificados, tem a capacidade de gerar fluxos de pessoas. Os equipamentos comerciais se localizam em áreas mais acessíveis para aproveitar as oportunidades oferecidas pelo comércio de passagem e podem atuar como multiplicadores do padrão básico deste movimento natural gerado pela configuração da rede viária. O site Urbanidades, do prof. Renato Saboya, fez um excelente resumo abordando os principais tópicos do artigo neste post.
RATTI, C. Space syntax: some inconsistencies. Environment and Planning B: Planning and Design, v. 31, n. 4, p. 487-499, 2004. [Link]
Neste artigo, Carlo Ratti faz críticas à Teoria da Sintaxe Espacial. Dentre os principais pontos, o autor destaca problemas relativos à representação axial, e a não consideração de outras caracteríticas urbanas como altura das edificações e uso do solo nos cálculos das medidas. Apesar de Ratti ter feito posteriormente um artigo se retratando de algumas considerações, Space Syntas: Some Inconsistentencies é uma leitura importante, por ter fomentado melhorias na Sintaxe Espacial.
MEDEIROS, L.F. Linhas de Continuidade no Sistema Axial. Recife, 2004. 104 p. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Urbano, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2004. [Link]
Nesta dissertação de metrado, Lucas Figueiredo Medeiros propõem um novo modelo sintático, intitulado Mapa de Continuidade. A principal diferença para o mapa axial tradicional é que o mapa de continuidade agrega várias linhas que tenham um determinado ângulo, criando uma série de espaços lineares contínuos.
MEDEIROS, V.A.S. Urbis Brasiliae ou sobre as Cidades do Brasil: Inserindo Assentamentos Urbanos do País em Investigações Configuracionais Comparativas. Brasília, 2006, 519 p. Tese (Doutorado). Programa de Pesquisa e Pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, 2006. [Link]
Uma das pesquisa utilizando a Sintaxe Espacial mais completas já realizadas no Brasil, Valério Medeiros faz uma comparação da configuração espacial de 44 cidades brasileiras com outras 120 cidades de outros lugares do mundo. O capítulo referente à metodologia do trabalho traz uma descrição detalhada sobre a Sintaxe Espacial, desde o embasamento teórico até os procedimentos de construção dos mapas axiais. Dentre os principais resultados encontrados, observou-se que, morfologicamente, as cidades brasileiras estão entre as mais segregadas do mundo.
HILLIER, B. Space is the machine: a configurational theory of architecture. London: Space Syntax, 2007. [Link]
Neste livro, Bill Hillier aprofunda os principais conceitos da Sintaxe Espacial descritos em The Social Logic of Space. Você pode conferir uma breve resenha que fizemos neste post.
TURNER, A. From axial to road-centre lines: a new representation for space syntax and a new model of route choice for transport network analysis. Environment and Planning B: Planning and Design, v. 34, n. 3, p. 539-555, 2007. [Link]
Alasdair Turner propõe neste artigo a utilização de eixos viários (Road-Centre Lines – RCL, em inglês) para a representação do espaço. Os achados da pesquisa mostram que a Anpalise Angular de Segmentos produz uma correlação melhor com o fluxo veicular observado em RCL do que em um mapa axial. Este artigo abriu novas possibilidades de representação da Sintaxe Espacial, que foram abordados em artigos posteriores.
HILLIER, B. Using DepthMap for Urban Analysis: A Simple Guide On What to Do Once You Have an Analysable Map in The System. London: The Barttlet School of Graduate Studies, 2008. [Link]
Este trabalho é um pequeno tutorial sobre o software Depthmap, que realiza cálculos e análises sintáticas. Dentre os principais pontos, o autor mostra como utilizar o raio métrico em análises angulares, uma equação de normalização da medida Escolha e combinação das medidas Integração e Escolha em uma só. Vale a pena dar uma conferida.
HILLIER, B.; TURNER, A.; YANG, T.; PARK, H.T. Metric and topo-geometric properties of urban street networks: some convergences, divergences and new results. Journal of Space Syntax, v. 1, n. 2, p. 258-279, 2010. [Link]
Os autores do artigo expõem que a estrutura espacial da cidade é composta por dois níveis: um nível superior (foreground), formado por uma rede contínua de espaços livres que conectam a cidade como um todo, estruturado por propriedades globais e topo-geométricas, exemplificado pela medida Escolha Global; e um nível inferior (background), formado por uma “colcha de retalhos”, estruturado por propriedades locais e métricas, exemplificado pela medida Profundidade Média Métrica.
HILLIER, B.; YANG, T.; TURNER, A. Normalising least angle choice in Depthmap-and how it opens up new perspectives on the global and local analysis of city space. Journal of Space Syntax, v. 3, n. 2, p. 155-193, 2012. [Link]
Os autores desta pesquisa propuseram a normalização de duas das principais medidas da Sintaxe Espacial no software Depthmap: Integração (Normalised Angular Integration – NAIN) e Escolha (Normalised Angular Choice – NACH). Este artigo é importante, pois esta normalização permite um melhor entendimento das propriedades sintáticas das medidas, uma melhor comparação sintática entre cidades de diferentes portes e novos olhares sobre a estrutura espacial urbana.
NETTO, V. M. O que a sintaxe espacial não é? Arquitextos, São Paulo, ano 14, n. 161.04, Vitruvius, out. 2013. [Link]
O artigo busca elucidar algumas questões sobre a Sintaxe Espacial, partindo da definição do que o método não é e o que não faz. A razão disso é que há uma necessidade de desmistificar a Sintaxe Esapcial, como o autor diz, “tanto em sua aparente onipotência (para uns) quanto a sua aparente fragilidade teórica e substantiva (para outros)”.
DHANANI, A.; VAUGHAN, L.S.; ELLUL, C.; GRIFFITHS, S.; (2012) From the axial line to the walked line: Evaluating the utility of commercial and user-generated street network datasets in space syntax analysis. In: Proceedings of 8th International Space Syntax Symposium. PUC, Santiago, p. 11-32, 2013. [Link]
O artigo traz uma análise de modelos de dois eixos viários (Road Centre Lines – RCL), sendo um comercial (ITN) e um da base de dados geográficos voluntários OpenStreetMap (OSM), comparando-os com um mapa axial tradicional. Os achados da pesquisa indicam um potencial do uso do mapa de eixos viários do OSM, por detalhar mais percursos de pedestres na escala local. O principal legado deste artigo é abrir a possibilidade do uso de mapas viários já existentes, principalmente de acesso gratuito, reduzindo tempo e erros de interpretação comuns na modelagem de mapas axiais tradicionais.
AL-SAYED, K.; TURNER, A.; HILLIER, B.; IIDA, S.; PENN, A. Space Syntax Methodology. 4th Edition. London: Bartlett School of Architecture, UCL, 2014. [Link]
Uma das publicações mais completas sobre a Sintaxe Espacial, este livro é um guia que aborda os principais elementos teóricos e traz uma série de tutoriais sobre diferentes modelos e medidas sintáticas.
KOLOVOU, I; GIL, J.; KARIMI, K.; LAW, S.; VERSLUIS, L. Road centre line simplification principles for angular segment analysis. In: Proceedings of 11th International Space Syntax Symposium. Instituto Superior Técnico, Portugal, p. 163.1-163, 2017. [Link]
Neste artigo, os autores apresentam uma proposta de simplificação de geometrias para mapas de eixos viários (road centre lines – RCL), para melhorar os resultados das medidas na Análise Angular de Segmentos. O processo inclui o uso do software SIG (Sistema de Informação Geográfica) QGIS e do plugin Space Syntax Toolkit. Os resultados mostram uma melhor correção das medidas com fluxos e deslocamentos urbanos após com o mapa RCL simplificado do que o original. Tais achados contribuem para um maior e melhor uso do RCL, além de uma otimização no tempo e acurácia na modelagem de mapas sintáticos.
Tem sugestões de artigos importantes sobre Sintaxe Espacial? Conte pra gente nos comentários!
Olá! Estou tentando desenvolver um mapa de análise axial e de segmentos angulares, porém tenho me deparado com uma dúvida teórica que está me atrapalhando. Uso o DepthMap e durante as análises sempre pede o “radius” que seria representado por n,3 por exemplo… Gostaria de alguma literatura que que pode me explicar melhor sobre quais medidas usar no “raio” e para que elas servem. Obrigado! 😀
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Renato,
Os raios indicam a abrangência do cálculo para cada eixo ou segmento do mapa. Uma análise de integração raio n, por exemplo, lhe dirá o quanto integrado cada eixo ou segmento está de todos os demais do mapa modelado. Se fizer uma análise R3, o resultado vai indicar integrado cada eixo ou segmento está de todos os demais a até 3 mudanças de direção. Esse raio menores, que também podem ser métricos, podem servir para estudos em escalas menores que a urbana, como setorial, um bairro, uma rua. Há alguns artigos que aborda o conceito e Aplicações dos raios, como “APLICAÇÕES DA SINTAXE ESPACIAL NO PLANEJAMENTO DA MOBILIDADE URBANA” de Carmo et al (2013); “ESTUDO EXPLORATÓRIO DA SINTAXE ESPACIAL COMO FERRAMENTA DE ALOCAÇÃO DE TRÁFEGO”, de Barros (2006); o blog do Renato Saboya, que recomendo muito (http://urbanidades.arq.br/2007/09/sintaxe-espacial/). Você também pode pesquisar por materiais e de apoio na internet, que encontra com facilidade. Abraços.
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Olá Alexandre bom dia. Parabéns pelo excelente trabalho para a disseminação de conhecimento sobre a sintaxe espacial e obrigada por compartilhar tantas informações importantes. Estou procurando, sem sucesso, artigos ou material mais completo sobre a métrica ‘inteligibilidade’. Tenho muita dificuldade em realizar a leitura do gráfico e gostaria de ler um pouco mais sobre exemplos de análises sobre inteligibilidade, você poderia me indicar um material sobre o assunto? Obrigada.
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Olá, Lívia! Muito obrigado pelos elogios! Em linhas gerais, a inteligibilidade mede o grau que o número de linhas conectadas a uma outra permitem compreender o espaço como um todo. Ele é exibido como um gráfico de dispersão, onde é feita a correlação estatística entre as medidas Conectividade e Integração. Os valores desta correlação variam de 0 a 1: quanto mais próximo de 1, mais inteligível é o espaço e, quanto mais próximo de 0, menos inteligível. Espaços mais inteligíveis (ex. malha regular) são mais previsíveis, uma vez que a partir de uma rua é possível compreender o seu entorno, enquanto que espaços menos inteligíveis (ex. malha orgânica) são mais labirínticos. A maior parte da literatura sobre o tema é em inglês, mas você pode encontrar mais explicações no livro “O Espaço de Exceção”, de Frederico de Holanda. Abraços 🙂
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